25 SET - 25 OUT
Teatro Estúdio Bonifrates (Casa Municipal da Cultura de
Coimbra)
Às sete da tarde, quando morrem as mães
Quando vim para Coimbra, a Cooperativa Bonifrates não tinha nascido há muito. O facto de
eu ter começado a respirar teatro num grupo amador — o Teatro Experimental de Mortágua —, fez-me
segui-la, ou persegui-la, atentamente. Antes de conhecer individualmente as pessoas, já sabia quem eram.
Para lá dos espetáculos, habituei-me a vê-los/as em iniciativas por si dinamizadas, ou em outras nas
quais teimam, desde sempre, em participar — está-lhes no sangue, quando não são eles e elas que
inventam, não sabem dizer «Não» quando desafiados/as para algo onde sentem que devem estar, numa marca
de intervenção cidadã que é muito sua. Nos anos entretanto vividos, vieram os conhecimentos e as
amizades, a partilha das inquietações e dos cravos erguidos em vozes ao alto, os abraços solidários e
emocionados por entre causas comuns.
Quando fui convidada para encenar um espetáculo na Bonifrates, fiquei felicíssima, mas também
atrapalhada. Tudo seria — e, de certo modo, foi — diferente daquilo a que me tinha acostumado em mais de
trinta anos de profissionalização, maioritariamente n'A Escola da Noite. Sair de zonas de conforto e
enfrentar desafios instiga-me sempre, mas a responsabilidade era — e é — muita. Desde logo — questão
muitíssimo importante — havia muitas pessoas interessadas em participar. Eu nunca dirigira mais do que
seis atores/atrizes num mesmo espetáculo. Como fazer? Que texto escolher para acolher todos e todas? Às
Sete da Tarde, Quando Morrem as Mães, de AveLina Pérez, pareceu-nos o texto certo.
Traduzir é ter uma relação muito íntima com as palavras de outros/as, tentar encontrar-lhes um
equivalente na nossa língua, mantendo sentidos, claro, mas também respeitando o máximo possível sons e
ritmos. Pela segunda vez — depois de Pó e Batom, de Esther Carrodeguas, que encenei em 2023 no Centro
Dramático de Évora —, propus-me levar mais fundo esta intimidade.
Neste texto, AveLina aborda o teatro — a arte? — e a relação entre quem faz e quem assiste de um modo
crítico, mesmo paródico, aprofundando metateatralmente a estranheza que se pode instalar quando há
elementos que trocam subitamente de lugar, o que pode levar-nos também a revermo-nos na estupidez que,
de algum modo, é apresentada. E também na solidão. Este questionamento, pareceu-nos, caía bem num grupo
com mais de quarenta anos de atividade.
Desdobrámos personagens, palavras e vozes na busca de um equilíbrio coletivo que nos parecia importante
e possível de alcançar. Tive à disposição um elenco de catorze pessoas que vai dos dezoito aos setenta e
oito anos, e não há como não me emocionar quando penso em semelhante privilégio. Tal como quando senti
em cada um dos dias o significado do bom acolhimento e da hospitalidade.
Amadores/as são aqueles e aquelas que amam. Às vezes tão verdadeiramente que trocam horas de sono e de
descanso por horas de inquietação, à volta da imaginação e da criação, sim, mas também da repetição e do
cansaço. A todos e a todas que se empenharam neste projeto, agradeço profundamente, para além da
paciência e do empenhamento, a «experiência [tão] gratificante».
«Que fique em ata.»
Sofia Lobo
junho de 2024
Ficha Técnica
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- Texto: AveLina Pérez
- Tradução e Encenação: Sofia Lobo
- Cenografia e Figurinos: Filipa Malva
- Cartaz e Folha de sala: Ana Biscaia
- Desenho de Luz: Nuno Patinho
- Elenco: Alexandra Silva, António Gamboa, Carolina Cardoso, Cristina Janicas, Francisco Paz,
João Damasceno, João Janicas, José Castela, Maria José Almeida, Maria Manuel Almeida, Marta
Costa Pinto, Paulo Pratas, Rui Damasceno e Susana Faria
- Operação de luz e som: José Rocha Almeida, Nuno Patinho e Teresa Paz
- Assistência de cena: Margarida Caramona
- Fotografia de cena: Tatiana Lages
- Cabelos: Ilídio Design/Carlos Gago
- Bilheteiras: Cândida Ferreira, Francisco Barros, Paula Santos, Ofélia Libório e Rui Almeida
- Banda sonora: W. A. Mozart, Requiem K626, por La Capella Reial de Catalunya, direção de Jordi
Savall (excertos)
- Produção da Cooperativa Bonifrates
- Agradecimentos: A Escola da Noite – Grupo de Teatro de Coimbra, Cena Lusófona, Associação Remar
– Loja Solidária de Coimbra
- Apoios: Câmara Municipal de Coimbra, Ilídio Design, Diário As Beiras, Jornal Universitário de
Coimbra – A Cabra, Rádio Universidade de Coimbra